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Liberdade_criativa_000 (Paulo Jorge)

Recentemente escrevi uma matéria sobre AMPLIAÇÃO COM PROJETOR. Recebi comentários maravilhosos e outro não tão bons, onde diziam os críticos que isso não era arte. A arte independe do meio usado para esboçar o desenho. O autor pode mudar alguns elementos, de acordo com sua capacidade criativa.

Quando questionei professores sobre o que seria “liberdade poética” na literatura, alguns respondiam em tom de brincadeira:

– “É o erro gramatical de alguém famoso” – o que não é verdade. De modo análogo, seria o que se chama na pintura “liberdade criativa” uma incapacidade do artista? Claro que não! Do mesmo modo que um autor literário pode variar as regras gramaticais quando deseja representar um diálogo coloquial, o artista pode retirar ou inserir elementos na obra para melhorar a composição. Também poderá mudar a iluminação e as cores, dependendo do que retrata, sem ferir as regras teóricas da pintura.

O ponto de partida

Liberdade_criativa_00 (Paulo Jorge) - Foto referência

Participo de uma gincana de pintura promovida pela ALeART (Academia de Letras e Artes da Região dos Lagos), onde sou membro. Os organizadores publicam uma foto a cada quinze dias e os participantes produzem uma obra sobre o tema, com técnicas variadas. A foto que usei no exemplo da matéria sobre o projetor retratava uma paisagem vista de um mirante na Praia de Boa Viagem, em Niterói – RJ, onde se via ao fundo a cadeia montanhosa da cidade do Rio de Janeiro, do outro lado da Baía de Guanabara. O lugar é muito conhecido. Apesar de bem retratado, merecia algumas mudanças para caracterizar melhor a paisagem e tornar a pintura mais atraente. Sempre ouvi de mestres nos quais me inspirei, que não devemos retratar os cenários exatamente como se apresentam – para isso há máquinas fotográficas. Pintores têm capacidade de enriquecer a obra, melhorando a apresentação. Há um ditado popular no meio artístico que diz o seguinte:

Ao contemplar uma obra

Para agradar um fotógrafo, diga:
– Parece uma pintura!
Para desagradar um pintor, diga:
– Parece uma fotografia.

As etapas

Pintura com tinta acrílica sobre tela – 33 x 44 (clique em cada imagem para ampliar).

01O esboço com carvão contém somente os elementos principais. Neste caso, o mirante o horizonte e a pedra.
02Após retirar o excesso de carvão, cobrir os traços com tinta. Facilita a pintura (o carvão sai com muita facilidade).
03Planejado o quadro, mudando a iluminação para luz quente (a foto era em dia frio), aplicada a camada inicial.
04Inserção de mais nuvens do que na foto.
05Iluminação das nuvens, pedra e céu. Apagou o traço do horizonte (veja dica abaixo desta tabela).
06Definição do horizonte. Importante neste caso, por se tratar de uma paisagem conhecida internacionalmente.
07Iluminação do mar e pedra.
08Definição do mirante, sombras e reflexos da pedra, areia (canto inferior esquerdo) e árvores. Neste caso como o céu está em degradê e foi pintado com tinta acrílica (mais difícil de fundir do que tinta à óleo), é mais fácil pintá-lo integralmente e pintar as árvores noutra camada superior. Quando o céu é uniforme, é costumeiro reservar espaço das copas (sem pintar o fundo), pintá-las e depois “vazar” alguns pontos com a cor do céu.
09Bicicleta, sombras e acabamentos. Pintei um pedacinho da copa de árvore no canto superior esquerdo (ela constava na foto inicial, mas foi cortada na referência adaptada ao tamanho da tela).

O risco sumiu! O que fazer?

DICA

No passo 05 notamos que sumiu o esboço do horizonte ao aplicar reforço na iluminação do céu. Nesse caso, basta colocar uma lâmpada atrás da tela. As camadas inferiores aparecerão ao acender a lâmpada.

Obra finalizada

Muitos detalhes foram alterados, como a iluminação mais quente – a foto original aparentemente foi tirada em dia frio. Também enfatizei a cadeia montanhosa da cidade do Rio de Janeiro, conhecida mundialmente. Além da iluminação, retirei os galhos das árvores que atrapalhavam a visão do corcovado (montanha onde fica a estátua do Cristo Redentor). Em paisagens reais costumo não mudar alguns pontos que considero fundamentais para identificar o local, como relevo e posição do sol. Árvores e adereços mudo sem titubear, já que podem ser alterados a qualquer momento pelo homem. Caso eu visite este local hoje, pode ser que estas árvores tenham sido podadas e já não se apresentem como estavam na foto.
Muitos colegas que participaram da gincana optaram por soluções diferentes da minha e produziram obras maravilhosas! São muito talentosos! Aproveito a oportunidade para parabenizar a todos e registrar o quanto estou honrado em participar de grupo tão seleto. Abraços a todos.

BOA VIAGEM - AST 33x44 (Paulo Jorge)
BOA VIAGEM – AST 33×44 (Paulo Jorge)

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