
Você já observou como uma montanha bem distante parece azulada? Isso se dá devido ao que se chama de perspectiva atmosférica, também conhecida como perspectiva aérea ou perspectiva tonal.
A profundidade na pintura
A pintura de paisagem deve representar o tema principal – geralmente em primeiro plano – e também o fundo, para dar a sensação de realidade ao quadro. Quando observamos uma paisagem real, notamos que os objetos mais distantes, como montanhas ou mesmo as árvores mais remotas, não têm o mesmo nível de detalhamento dos objetos principais. As cores vão esmaecendo a ponto de quase se confundirem com o céu. Antes da Renascença esses objetos eram simplesmente representados menores, mas igualmente detalhados. Foi Leonardo da Vinci o grande divulgador da perspectiva atmosférica, embora não seja ele o inventor desta técnica. É atribuída ao ao arquiteto nascido em Florença, Fillipo Brunelleshi (1377-1446) – o mesmo que inventou a perspectiva linear, tratada em nosso artigo “Perspectiva linear – sensação 3D“.
Valor tonal
Valor tonal, ou simplesmente VALOR é um atributo da cor e representa a luminância da mesma, ou seja, a capacidade que essa cor tem de refletir luz. Na ilustração acima, vemos o Preto variando até o branco. O lado esquerdo é preenchido com a cor mais intensa e vai perdendo intensidade quanto mais se aproxima do branco. Temos a sensação que o lado direito está mais iluminado do que o lado esquerdo, o que neste caso nos leva ao raciocínio seguinte: quanto mais luz, maior o valor. No exemplo utilizamos o preto, mas se aplica a qualquer cor.
Descobrindo o valor tonal

Observemos esta foto. As cores das montanhas que estão mais longe vão perdendo intensidade e ficando mais claras, ou seja, têm maior valor tonal do que as mais próximas. Em algumas situações ficam mais azuladas e podem se confundir com céu, o que não ocorre neste exemplo com nuvens bem iluminadas. Isso acontece porque o espaço entre o observador e o fundo da cena está ocupado por gases componentes da atmosfera, e estes funcionam como filtros para nossa visão. A acuidade visual humana não é boa o suficiente para perceber detalhes à distância, o que colabora para esse efeito. O fenômeno fica mais fácil de observar se retiramos a cor da foto e a deixamos em escala de cinza, o que é muito fácil fazer com um aplicativo de computador ou telefone celular.
Escala de valores na paisagem real
Não é possível retirar a cor numa paisagem real. Nossa visão é afetada por uma série de fatores, como vento, luminosidade do ambiente, calor, e outros, o que não ocorre num ambiente controlado quando observamos uma foto. Para contornar isso, podemos adotar um dos meios seguintes:
- Observar pontos específicos da paisagem através de um colimador (spot) que pode ser improvisado com um canudo de papel ou uma revista enrolada.
- Semicerrar os olhos, quase fechando, para que os cílios façam o papel de colimadores.
- Usar a mão como colimador, olhando através do furo formado pelos dedos polegar, indicador e médio.
Temperatura das cores
Quando olhamos um horizonte real, temos a impressão, de que o ponto mais distante está mais frio do que o mais próximo. Uma pintura realista bem feita deve transmitir sensações ao expectador, como se ele fosse participante do cenário representado. Assim, deve passar as sensações de calor e frio, como numa paisagem real.
Podemos dividir as cores em frias (contendo azul) e quentes (não contém azul).
Segundo a classificação do psicólogo alemão Wilhelm Wundt (1832-1920), as cores quentes, associadas ao fogo, são estimulantes. As cores frias, associadas à água, são calmantes.
Ao observarmos a paisagem acima, vemos que as árvores mais próximas estão iluminadas com amarelo, produzindo a sensação de ambiente mais quente do que as montanhas ao fundo, onde predomina o azul.
Outra maneira de dar profundidade à pintura de paisagens é desfocar o fundo. Este recurso está presente na fotografia, auxiliada pelo avanço rápido da tecnologia.
Pinturas com perspectiva atmosférica

Minha participação na 20ª Gincana Virtual promovida pela ALeART, baseada em foto publicada pelos organizadores (Praia do Portinho, Ilhabela – SP).

Esta é a minha participação na Gincana dos Pintores Paisagistas, edição 05/12/2020.
Referências
https://cozinhadapintura.com.br/2011/08/15/teoria-cor-pintura/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Perspectiva_atmosf%C3%A9rica
https://www.lcs.poli.usp.br/~gstolfi/PPT/APTV0416.pdf
https://www.electronica-pt.com/tv-eletronica/rgb
https://www.styleneuf.com/post/o-que-sao-cores-quentes-e-frias
https://www.todamateria.com.br/cores-quentes/
Bom Paulo Jorge, sou aprendiz de pintura e estou encontrando dificuldade em pintar montanhas usando a perspectiva aérea. Li o seu artigo e gostei muito da sua explicação. Obrigada pelo ensinamento. Agora vou tentar pintar usando o seu ensinamento.
Conceição
Boa noite, Conceição! Eu fico muito feliz em ser útil aos colegas, pois também já tive essa dificuldade e fui ajudado por quem tinha mais experiência do que eu. Acredite – você conseguirá! Comece com um exercício simples: pinte três montanhas, sendo uma em primeiro plano (perto), outra no segundo plano e mais uma no terceiro. Esse exercício costuma funcionar para a maioria dos iniciantes na pintura. Caso tenha alguma outra dúvida, estou pronto para ajudar no que for possível – basta postar aqui mesmo. Obrigado por seu comentário! Abraços.