
Quem nunca errou na hora de pintar um elemento da paisagem? Muitos artistas têm que refazer parte da obra por erros dessa natureza. Na hora de pintar sobre um item que foi colocado na tela de forma equivocada, temos que usar tintas mais opacas, caso contrário, corremos o risco dele ficar levemente perceptível, como se fosse um “fantasma” sob o objeto mais recente. Outra característica das tintas que deve ser observada é a permanência, já que algumas desbotam mais rapidamente do que outras.
Os Pigmentos
Desde que o homem despertou para as atividades artísticas, os pigmentos receberam atenção especial. Os primeiros eram extraídos da natureza, de origem mineral (rochas e terras) ou de origem orgânica (animais e vegetais). Alguns desses pigmentos eram tóxicos, como o antigo “vermelhão”, o que obrigou o homem a buscar outras soluções.
Até a metade do século XIX alguns pigmentos azuis começaram a ser sintetizados, como os azuis da Prússia (PB27), cobalto (PB28) e ultramar (PB29), segundo o autor João Barcelos. Há indícios históricos de que a busca por substitutos sintéticos se deu inicialmente por motivo econômico, uma vez que os pigmentos naturais eram muito caros.
O desenvolvimento da química orgânica, ainda no século XIX, impulsionou a fabricação de pigmentos sintéticos, principalmente os vermelhos, o que beneficiou inicialmente o movimento artístico conhecido como Impressionismo. A indústria produtora de tintas continua evoluindo constantemente, impulsionada pela busca de substâncias cada vez mais eficientes e afinadas com a proteção ao meio ambiente. Viva a ciência!
Transparência e permanência
Quem nunca viu uma pintura antiga desbotada e apresentando rachaduras, o que chamamos de “craquelado”? Isso acontece porque alguns pigmentos são mais sensíveis à luz e desbotam se expostos por longo tempo aos raios luminosos diretos, como a luz solar. Já as rachaduras decorrem, na maioria das vezes, dos processos de secagem inadequados. Como as tintas a óleo demoram muito para secar, há artistas que se valem dos aceleradores de secagem, como o “secante de cobalto” ou outros. Além de tóxico, o referido secante se usado inadequadamente pode levar a obra a craquelar.
Informamos na introdução deste artigo que alguns pigmentos desbotam mais rapidamente do que outros. Essa característica é chamada de “permanência” e informada pelos fabricantes nos tubos de tinta (salvo raras exceções).
Outra informação presente nos frascos de tinta é o nível de transparência, pois alguns pigmentos têm mais capacidade de cobertura (opacidade) do que outros. Para maior assimilação pelo público, a indústria estabeleceu algumas convenções de representação, como demonstrado na ilustração deste tópico. Para representar uma tinta transparente, usam um retângulo vazio (branco). Se dividido por uma diagonal com a metade preenchida, informa que a tinta é “semitransparente”. Se o retângulo está totalmente pintado, sabemos que se trata de pigmento opaco, com grande capacidade de cobertura.
A representação da permanência se dá por algarismos romanos – na classificação ASTM (American Society for Testing and Materials). Nesse caso, “I” indica permanência excelente. Quanto maior o número indicado, menor a capacidade de permanência da cor se exposta inadequadamente à luz.
ATENÇÃO: Há outras formas de classificação. As marcas Corfix, Acrilex, Gato Preto, Pebeo, LeFranc Bourgeois, entre outras, usam estrelas ou asteriscos para indicar o nível de resistência à luz, onde “***” indica excelente, “**” ótima e “*” regular.
A Corfix disponibiliza uma página muito prática onde podemos verificar as características dos produtos da linha ARTS, que utilizo e recomendo para pinturas com tinta acrílica: http://www.corfix.com.br/tinta-acrilica-arts-bisnagas/
Quem nunca errou atire a primeira pedra
Conta um colega artista que certa vez estava demonstrando como pintar uma paisagem para seus alunos e cometeu um erro, o que foi apontado por um dos seus discípulos. Reconheceu o equívoco, mas ressaltou que foi proposital para despertar o interesse dos alunos (será?). Virou-se para repintar o objeto e disse:
– Quem nunca errou atire a primeira pedra!
Quando olhou para trás, lá estava Joãozinho com uma pedra na mão, pronto para cumprir sua ordem. Dirigiu-se a ele apressadamente:
– Joãozinho, você nunca errou?
– Dessa distância? Nunca, professor! – respondeu com sarcasmo evidente.
A clareza da comunicação é importante em todas as áreas, inclusive na pintura.
Tirando proveito das cores opacas
Resolvi recentemente terminar um quadro que comecei a pintar ao ar livre, há cerca de um ano. Embora saiba que é necessário esboçar os principais elementos logo no início, os detalhes do cais passaram despercebidos porque na ocasião havia vários barcos ancorados nele, obstruindo a visão. Então, esbocei as colunas de madeira, presentes na maioria dos ancoradouros da região. Ao passar de carro pelo local, vi o erro que cometi. Nesse caso não havia colunas de madeira. Foi construído em alvenaria sobre um aterramento do canal. Tinha um problema para sanar.
As colunas que esbocei estavam projetadas sobre a água, pintada em azul com cores semitransparentes. Nesse caso não adiantaria pintar com o mesmo azul, pois as cores escuras da coluna não seriam cobertas. A solução foi misturar “Branco de Titânio” (cor opaca) ao azul para encobrir o erro. Embora nesse caso o azul obtido não seja exatamente o pintado inicialmente, fica mais fácil corrigir posteriormente.
DICA: quando não conseguir cobrir determinada área da tela com a cor desejada, pinte primeiramente com “Branco de Titânio” ou outra cor opaca. Depois pinte o que deseja por cima dessa camada.
Tirando proveito das cores transparentes
As tintas transparentes são ótimas para “veladuras“, assunto abordado em nosso artigo “Em busca do mundo real” (https://www.paulojorge.art.br/em-busca-do-mundo-real). Simplificando o conceito, essa técnica consiste em colorir com tintas transparentes cenas já pintadas, como o alaranjado proporcionado pelo pôr do sol na obra “CAMPO DE GIRASSÓIS” (https://www.paulojorge.art.br/project/campo-de-girassois) que pintei em 2021.

Referências
- Corfix (Tinta Acrílica Arts Bisnagas) http://www.corfix.com.br/tinta-acrilica-arts-bisnagas/
- Barcelos, João – Pintura – Além do pincel (Capítulo 2 – Cores e pigmentos) http://www.joaobarcelos.art.br/livro01_cap2.pdf
- Como ler rótulos de Tintas Artísticas – https://www.anandaabhinava.com/post/como-ler-rotulos-de-tintas-artisticas
Deixe um comentário