Infância e o início com a arte

Paulo Jorge (2025)

Paulo Jorge nasceu em 29 de outubro de 1957, no município de São Pedro da Aldeia, no bairro rural de Pau Rachado, e lá viveu até os 16 anos. Quando criança, não havia transporte público na região, e para frequentar a escola, ele caminhava longas distâncias. Como a professora local ensinava somente até a terceira série do curso primário (hoje, ensino fundamental), ele precisou usar um cavalo para chegar até a metade do caminho, onde pegava um ônibus para São Pedro — a cidade mais próxima. Lá, o ensino era de qualidade para os padrões regionais. Essa rotina começava às quatro da madrugada e só terminava às cinco da tarde, quando ele finalmente chegava em casa e ainda tinha que ir ao canavial cortar ração para o animal. Depois da tarefa, o dia seguinte o esperava com a mesma rotina.

Alguns professores o ajudaram muito, pois viam sua dificuldade financeira para se instruir e se enturmar com os filhos de famílias tradicionais da cidade. Não faltavam chacotas e apelidos que evidenciavam sua condição de roceiro. Hoje, essa prática é conhecida como bullying. Mais tarde, suas irmãs e primas passaram a estudar na cidade e o cavalo foi substituído por uma charrete — um luxo!

Chico (avô paterno) e Paulo Jorge - transportando mandioca para o engenho de farinha

A escassez de diversão na infância foi providencial. Os brinquedos de Paulo Jorge se limitavam a um pneu velho aposentado da charrete e a uma roda de ferro que ele usava como volante imaginário quando ia buscar mandioca com seu avô. Logo, o cantarolante carro de boi se transformava em automóvel na sua imaginação de criança.

A falta de brinquedos o levou ao desenho. Ele acredita que ainda não sabia ler e já desenhava razoavelmente para a pouca idade que tinha. Começou copiando propagandas dos velhos almanaques “Seleções do Reader’s Digest” que sua avó paterna guardava como um tesouro valioso.

Um primo, seu vizinho, fazia a mesma coisa, e juntos criaram uma competição que evoluiu para a elaboração de histórias em quadrinhos, desde o roteiro até a arte final. Os quadrinhos foram as principais fontes de inspiração. Um tio, ao visitá-lo, trazia várias revistas de presente, e os técnicos da EMATER — órgão do governo que auxiliava os agricultores — o presenteavam com material de desenho e literatura.

Ele experimentou várias técnicas, começando com lápis, carvão, tira-linhas e bico de pena. Este último, de pena, era literalmente subtraído do rabo dos galos do terreiro. Com o auxílio de uma faca afiada, nascia uma excelente caneta para tinta nanquim. Depois de algum tempo, os galos, quando o viam, partiam para longe.

Paulo Jorge (criança)

Já na escola, os professores notaram sua tendência para a arte e o auxiliaram doando material e literatura sobre o assunto. Um professor de artes da própria escola o ensinou, com bastante empenho, outras técnicas de pintura. Paulo Jorge procurou aproveitar cada oportunidade, pois a arte era a única opção viável para se destacar e escapar do instinto predador dos colegas de classe.

Ele escrevia e fazia ilustrações para um jornal estudantil chamado “O Cientista”. Como os desenhos tinham que ser feitos com estilete, diretamente no estêncil usado como matriz do mimeógrafo elétrico, ele experimentou a técnica do pontilhismo e das hachuras.

Um certo professor de História o chamou em particular e disse: “Pau Rachado” — apelido que perdurou por bastante tempo — “vou passar um trabalho sobre ‘A Tomada de Constantinopla’. Pinte várias capas para esse trabalho e ofereça aos outros alunos. Eu vou dar nota na apresentação.”

Assim, ele fez e vendeu todas as capas. A partir daí, outros professores passaram a avisá-lo sobre os trabalhos que dariam, e ele começou a pintar temas relacionados. Tudo ia muito bem, até que pintores da região descobriram a oportunidade e acabaram com o seu negócio.

Já no ensino médio, mudou-se para Cabo Frio, cidade vizinha. Deixou o velho apelido, mas não abandonou sua paixão pela pintura. A nova escola passou a requisitá-lo para outras atividades artísticas: ele pintou murais, cenários para peças de teatro, personagens de festas típicas e muito mais. Como a diretora era envolvida com a igreja católica local, ele era o responsável por uma quadra do famoso “Tapete de Sal” da procissão de “Corpus Christi”.

Nessa época, ele participava como redator e repórter de campo no programa “Educação sem Limites” na “Rádio Cabo Frio”. O foco era a cultura regional, o que o levou a ter contato com vários pintores que visitavam a cidade e com artistas locais como José de DomeTorres do Cabo, Carlos Scliar e outros. Todos o influenciaram de alguma forma.


A vida profissional e o reencontro com a arte

Paulo Jorge e Rose Athayde (esposa)

A vida profissional o afastou da pintura quando teve que se mudar para o Rio de Janeiro em 1979. Seu objetivo era se preparar para o vestibular de medicina, já que ele exercia a profissão de Técnico em Radiologia Médica desde 1976. Em plena ditadura militar, sozinho em uma cidade grande, ele enfrentou muitos obstáculos e não conseguiu ser aprovado em uma universidade pública. Sem condições de custear uma faculdade particular, fez diversos cursos técnicos para aumentar seus rendimentos, se manter e auxiliar sua família.

Já atuando como funcionário público federal, e somente depois de casado, cursou faculdade incentivado por sua esposa. Ela era funcionária pública concursada de nível superior, enquanto ele, com nível técnico. Já envolvido com tecnologia, ingressou em uma faculdade de Informática, mas não se adaptou ao curso. Prestou novo vestibular e passou em uma universidade pública, no curso de Biologia. O objetivo era fazer ascensão funcional para o nível superior no serviço público. Pouco antes da formatura, o governo federal proibiu os concursos internos. Foi mais uma frustração.

Prestou vestibular novamente para a faculdade de Informática, cursou e se especializou em Análise de Sistemas. Ele ainda atua nessa área. A pintura foi colocada de lado, mas o que aprendeu sobre cores e composição para interfaces gráficas em computação o auxilia muito nas artes plásticas.

Ao retornar para Cabo Frio em 1999, alguns amigos e parentes lhe perguntavam pelos seus quadros, elogiavam e pediam um — um velho hábito de pedir de graça a única coisa que o artista tem para vender. E, nesse caso, ele nem tinha, pois não guardou nada daquela época. Sua esposa sabia que ele desenhava, mas ele nunca havia falado sobre os quadros que pintou, até porque essa atividade ele nunca imaginou que fosse retomar. Depois disso, até ela pedia para ele pintar uma tela para a casa deles. Ele sempre protelava com alguma desculpa, às vezes brincando: “Minha veia artística está cheia de varizes”.

Quando a esposa se aposentou, um dos objetivos dela era estudar pintura, e como a mulher é sempre mais obstinada do que o homem, foi o que ela fez. Primeiro, com um professor de São Pedro da Aldeia, o artista Humberto Leite. Ele ia até a casa deles uma vez por semana para ensinar pintura a óleo para ela e uma amiga. Ao experimentar o cheiro da tinta e dos solventes, Paulo Jorge sentiu uma coceira nos dedos e uma vontade imensa de pegar nos pincéis. Resisitiu bravamente.

Paulo Jorge e Roger Vianna

Mais tarde, ela passou a estudar com um professor de Barra de São João, Roger Vianna, muito premiado em concursos. Grande mestre impressionista, ele ministra cursos de pintura acrílica e aquarela. Um dia, uma amiga não pôde acompanhá-la, e ele foi de motorista, numa folga improvisada que conseguiu no trabalho. Durante a aula, com vários alunos no ateliê, ele sentiu a vontade de experimentar umas pinceladas. Ingressou no curso para aprender algumas técnicas impressionistas com tinta acrílica. Sua experiência com essa modalidade de pintura no passado não foi muito animadora, pois sua predileção sempre foi a tinta a óleo. Roger Vianna o convenceu, e ele aprendeu muito com seu amigo.

Moral da história: ele voltou a pintar depois de 40 anos de inatividade, mas o primeiro quadro da sua casa foi pintado por sua esposa. Ele protelou, ela fez!

A capacidade de aprendizado do ser humano é infinita e as técnicas se renovam o tempo todo — não há quem saiba tudo. Por isso, ele continua estudando diariamente, com a meta de aprender algo novo a cada dia. Ingressou em cursos a distância com mestres renomados. Atualmente, está cursando pós-graduação em Artes Visuais. Hoje, com a facilidade da internet, só não estuda quem não quer.


Academias, publicações e o futuro

Ele e sua esposa, Rose Athayde, ingressaram na ALeART — Academia de Letras e Artes da Região dos Lagos — em novembro de 2019. Sua esposa foi indicada e teve como madrinha a acadêmica Lourdes Ishizu. Ele foi indicado pelo acadêmico Roger Vianna e teve como padrinho o acadêmico João Mattos. Eles participam de reuniões e gincanas promovidas pela instituição, convivendo e trocando experiências com artistas de excelência. A ALeART é presidida pelo acadêmico e grande artista Carlos Alberto Fouraux.

Mais tarde, ele ingressou na ALSPA – Academia de Letras de São Pedro da Aldeia, convidado por Rogério Veiga Junior, seu presidente. Sua diplomação como acadêmico ocorreu em 21 de maio de 2022, juntamente com a comemoração do aniversário da academia, no salão nobre do restaurante Sunset Lagoon, no centro de São Pedro da Aldeia.

ALSPA

Ao longo de sua vida, muitas pessoas lhe estenderam a mão, apontando o horizonte quando sua visão esteve embaçada e evitando que a desesperança tomasse conta dele. Isso o possibilitou superar desafios e transformar sonhos em realidade. Profissional de formação na área das ciências exatas, de tempos em tempos, ele se surpreende questionando o porquê dessa vocação para a pintura.

Hoje, ele tem a percepção de que sua arte, além de servir para dar vazão à sua criatividade, também tem o propósito de, através de suas telas, transmitir prazer e alegria a outras pessoas, e isso o deixa feliz. Já aposentado do serviço público, a pintura ocupou um papel relevante em sua vida. É uma das suas mais importantes formas de ocupação prazerosa e de complementação de renda.

Além de pintar e escrever, ele ministra cursos, realiza oficinas de pintura e palestras. Compartilhar um pouco do que recebeu com outros é motivo de grande alegria para ele.


Publicações em livros, jornais e revistas

  • Computando (coluna semanal) JORNAL HOJE (periódico impresso) Editora Hoje, Região dos Lagos. 2000 a 2002.
  • Negozinho, o fabricante de sonhos (conto). A ALDEIA DE PEDRO (Antologia). 1a Edição. Aldeia Editora. 2021.
  • Natureza (poema). A NATUREZA EM POESIA (Antologia). 6a Edição. Editora Foco das Letras. 2022.
  • Tributo a Gabriel Joaquim dos Santos (poema). A ALDEIA DE PEDRO (Antologia). 2a Edição. Aldeia Editora. 2022.
  • Casa da Flor (capa, pintura). A ALDEIA DE PEDRO (Antologia). 2a Edição. Aldeia Editora. 2022.
  • Mentira tem pernas curtas (conto). A ALDEIA DE PEDRO (Antologia). 3a Edição. Aldeia Editora. 2023.
  • Estrada dos Ipês (pintura) – ARTES (Ilustração do capítulo “A NATUREZA COMO MODELO”), destinado ao 9º ano do Ensino Fundamental – Editora FTD – São Paulo.
  • Pintando o Sete (coluna – tutorial sobre pintura em tela). REVISTA ALDEIA MAGAZINE (Periódico mensal). Aldeia editora.

Aldeense, com muito orgulho!

MOINHO DA ALDEIA - AST 50 X 70 - Painel (Paulo Jorge)

Em 1999, ele retornou para a Região dos Lagos com o objetivo de ficar mais próximo de seus pais. Foi cedido pelo Ministério da Saúde para a Prefeitura Municipal de São Pedro da Aldeia, seu município natal, onde prestou serviço até sua aposentadoria. Como sua cessão era de 24 horas semanais, ele ocupou o restante da carga horária assumindo diversas funções em cargos de confiança, a convite da própria prefeitura. Atuou como Analista de Sistemas, Diretor de Desenvolvimento Econômico, Agente de Desenvolvimento e Assessor Especial.

Participou de projetos integrados com o SEBRAE-RJ, FIRJAN, CLP (Centro de Liderança Pública) e outros. Ele fez palestras motivacionais e liderou projetos, participando da redação de muitos deles. Foi nomeado conselheiro no COMASSPA (Conselho Municipal de Ambiente e Saneamento), CMPC (Conselho Municipal de Política Cultural) e COMTUR (Conselho Municipal de Turismo), tendo presidido este último.

Atualmente, ele não exerce nenhuma função remunerada ligada ao serviço público, no entanto, continua incentivando e participando de eventos culturais sempre que pode. Colaborar com seu município é motivo de orgulho para ele.


A infância (fotos)


Exposições

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