“A terra é azul!”- disse o astronauta russo Yuri Gagarin, na primeira viagem espacial tripulada que orbitou nosso planeta em 12 de abril de 1961.
Não se referia o famoso astronauta aos oceanos somente, com sua cor azul que podemos imaginar facilmente – toda a terra se apresentava azulada, incluindo os continentes. As leis da física já eram conhecidas, bem como a formação das imagens no olho humano. A célebre frase levou boa parte da população a refletir sobre o mundo mágico das cores.
Como seria o mundo se não pudéssemos ver as cores? Se não existisse a luz? Certamente não seria o fim da humanidade, pois pessoas privadas da visão têm vida regular, e vivem com qualidade num ambiente preparado para tal. Contudo, a maioria da população utiliza cor para suas atividades, desde a escolha das roupas, dos alimentos, dos utensílios domésticos e interfaces com as máquinas. Já imaginaram como seria um semáforo sem a existência de luz e cores? A luz é fundamental para que o mundo se revele com com sua beleza sem igual! Sem ela não conseguiríamos ver cor nenhuma.
Nosso objetivo é estudar a utilização das cores na arte, todavia necessitamos fazer algumas considerações sobre a evolução da ciência nesse tema.
Um pouco de história
Hoje é muito mais fácil falar sobre cores. A ciência desenvolveu-se bastante e permite que estudemos mais detalhadamente as propriedades da luz e a fisiologia do corpo humano. Muitos instrumentos foram criados para auxiliar a humanidade. Vários pigmentos desenvolvidos para colorir obras de arte e utensílios do dia-a-dia do homem moderno. Mas nem sempre foi assim.
O primeiro a formular uma teoria sobre as cores foi Aristóteles, um sábio grego da antiguidade. Para ele, as cores eram manifestações divinas, sendo as mais simples relacionadas aos elementos que então eram considerados básicos: ar, água, terra e fogo.
Segundo Aristóteles, a luz solar ao refletir ou atravessar um objeto teria sua intensidade diminuída, escurecendo. Seria uma transição do claro para o escuro, uma sobreposição do branco e do preto. Ele afirmava que a luz não era material, mas a qualidade que caracterizava a condição ou o estado de transparência: “Uma coisa se diz invisível porque não tem cor alguma, ou a tem somente em grau fraco”.
Leonardo da Vinci (1452 – 1519), grande cientista e artista italiano, baseado na teoria de Aristóteles, acreditava que as cores eram propriedades dos objetos. Escreveu um tratado sobre pintura, onde dizia: “A primeira de todas as cores simples é o branco, embora os filósofos não irão aceitar tanto branco como preto como cores porque branco é a causa ou receptor de todas as cores, e o preto é a privação total delas. Mas como os pintores não podem ficar sem ambas, as colocaremos dentre as demais. (…) Podemos colocar o branco como representante da luz sem o qual nenhuma cor pode ser vista, amarelo para a terra, verde para água, azul para o ar, vermelho para o fogo e preto para a escuridão.”
As considerações de Aristóteles permaneceram por muito tempo, até que o cientista inglês Isaac Newton (1643-1727) formulou sua teoria sobre as cores, baseado na observação de um feixe de luz solar que, ao passar por um prisma, se decompunha em sete cores: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta.
Quem se lembra da capa do famoso álbum “The Dark Side of the Moon” da banda britânica Pink Floyd, lançado em 1973? Nela era representado o experimento de Newton, onde o feixe atravessava um prisma e se decompunha nas sete cores – as mesmas que compõem o arco-iris.
Para Isaac Newton a luz nada tinha de material. Era composta por ondas onde o violeta possui a frequência mais alta, enquanto o vermelho, a mais baixa. Quanto menor o comprimento da onda, ou seja, frequência mais alta, maior seria ângulo de refração – desvio da luz ao atravessar o prisma. Assim o Violeta teria maior grau de refração do que o vermelho. Sua teoria sobre as cores foi publicada sob o título “Nova Teoria da Luz e Cores”, em 1672.
A representação das sete cores é uma simplificação do fenômeno observado. Na verdade essa variação é contínua, passando de uma cor para outra sem mudança brusca, como na ilustração abaixo.
Isaac Newton foi o primeiro a organizar as cores num disco composto de sete divisões, uma para cada cor: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil, violeta. Esse número foi baseado nas notas musicais da escala diatônica e no número de planetas conhecidos na época.
Johann Wolfgang von Goethe (1749 a 1832), o famoso escritor alemão, foi o primeiro a questionar a visão matemática de Newton. Para ele a percepção das cores passava pelo olhar crítico, levando o observador a tirar suas próprias conclusões baseadas em aspectos fisiológicos e psicológicos, ignorados por Newton. Talvez tenha sido esse raciocínio a influenciar o grande artista plástico espanhol Hangel Montero quando afirma em seu livro “La Obtención del Color: Un secreto al descubierto“:
EL COLOR EN LA PINTURA NO SE VE, SE DEDUCE.
(A cor na pintura não é vista, é deduzida).
Reinterpretou as cores dos pigmentos para impressão de Le Blon (século XVIII), renomeando-os púrpura, amarelo e azul claro, se aproximando com muita precisão das atuais tintas magenta, amarelo e ciano utilizadas em impressão industrial.
Elaborou novo disco de cores, com número par, precursor do conceito de cores complementares.
A “Teoria das Cores” publicada por Goethe em 1810 quase nada impactou a teoria de Newton devido ao grande prestígio do físico inglês. Suas explicações para os fenômenos eram muitas vezes insatisfatórias e ele não utilizou nenhum método científico para provar suas teses. Sua publicação caiu em descrédito na comunidade científica, não despertou interesse para a maioria dos artistas e era muito complexa para leigos.
William Turner (1775 a 1851), pintor inglês apaixonado pela luz, adotou a teoria de Goethe. Após receber um exemplar de “Teoria das cores” traduzido, pintou o quadro “Luz e cor” em 1843.
As observações de Johann Wolfgang von Goethe foram resgatadas no início do século XX pelos pintores modernos como Paul Klee e Kandinsky. Serviram de base para o sistema de cor CYMK– Cian (ciano), Yellow (amarelo), Magenta e BlacK (preto), utilizado pelas impressoras modernas, mas esse tema trataremos em nosso próximo artigo.
Cenas do próximo capítulo
- Os sistemas de cores
- Cores primárias, secundárias e terciárias
- Como nossos olhos percebem as cores?
Bibliografia
Montero, Hangel – La Obtencion del Color: Un secreto al descubierto
https://pt.wikipedia.org/wiki/Categoria:!Portal_Cores
https://pt.wikipedia.org/wiki/Portal:Cores/Artigo/1
https://pt.wikipedia.org/wiki/Portal:Cores/Artigo/2
http://www.antroposofy.com.br/wordpress/a-teoria-das-cores-de-goethe/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Johann_Wolfgang_von_Goethe
https://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles
https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_das_cores
Aplicação deste tutorial
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