Muitos estudiosos desenvolveram teorias diversas sobre a composição da luz e a formação das cores. Mas como nossos olhos as percebem?
A luz
Vimos em “O mundo mágico das cores” que Isaac Newton (1643-1727) decompôs a luz “branca” em sete cores: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. Mais tarde James Maxwell (1831-1879) definiu a luz como ondas eletromagnéticas – campos elétricos e magnéticos, variáveis, que se propagam no espaço. Albert Einstein (1879-1955) propôs que a radiação eletromagnética deveria ser quantizada e a quantidade elementar que definia a luz era o fóton. Segundo ele, a luz ora se comporta como ondas, ora como partículas. Não aprofundaremos o estudo da física, mas devemos entender os fenômenos que a luz sofre (refração, dispersão e polarização) para usar na pintura os recursos que ela oferece.
Os pigmentos
Os artistas de outrora, como no período do romantismo (1820-1850) e anteriores, não dispunham de muitos pigmentos, como nos tempos atuais. Segundo o grande artista João Barcelos nos informa em seu excelente livro Pintura – Além do pincel, até a metade do século XIX, outros importantes pigmentos minerais foram sintetizados,como o azul da Prússia (PB27), azul cobalto (PB28) e azul ultramar (PB29).
… os orgânicos sintéticos só começaram a aparecer após o advento da Química Orgânica, um pouco depois da metade do século XIX. Antes disso, eram obtidos diretamente da natureza, nas fontes vegetais e animais. Estes pigmentos orgânicos naturais não eram de boa qualidade.
Foram beneficiados com as descobertas da química orgânica os artistas do movimento pós-impressionismo, como Vincent van Gogh, Paul Cézanne, e posteriores.
Luz e pigmentos
Pensadores como Aristóteles e Leonardo da Vinci achavam que a cor era propriedade da matéria. Isso mudou com os experimentos de Isaac Newton e posteriormente Goethe. A partir de Newton a cor passou a ser considerada como propriedade da luz, e não dos objetos. Pode ser emitida por uma ou mais fontes luminosas e misturadas gerando outras cores, o que se chama de mistura aditiva.
Parte dessa mesma luz pode ser absorvida por um objeto pintado com pigmento, outra parte refletida e captada por nossos olhos. O objeto reflete a cor que foi pintado absorvendo as demais. Se foi pintado de branco, refletirá todas as cores e se foi pintado de preto, nada refletirá. Nossa visão funciona em modo semelhante sistema RGB, com células específicas chamadas cones, sensíveis às cores vermelho (R), verde (G) e azul (B).
Mistura aditiva
É a mistura de cores geradas por fontes luminosas. Nos televisores e monitores antigos, cuja tela era composta por tubo de raios catódicos, a cor que víamos resultava do choque dos elétrons com uma tríade de fósforos nas cores vermelho (R), verde (G) e azul (B) – cores primárias neste sistema. As letras são as iniciais das cores no idioma Inglês (Red, Green e Blue), formando o sistema RGB, onde a mistura em partes iguais das três cores primárias gera o branco.
Alguns projetores e monitores modernos utilizam sistema semelhante.
Mistura subtrativa
É a mistura de pigmentos que “subtrai” ou altera a capacidade de reflexão de luz (simplificação para entendimento). Os artistas plásticos utilizam esta técnica.
Estamos neste caso usando o sistema CYMK – Ciano (C), Amarelo (Y) e Magenta (M). Falaremos sobre este sistema adiante. Vale observar que as cores secundárias do sistema RGB são as cores primárias do sistema CYMK e vice-versa. A mistura dos três pigmentos básicos em partes iguais resulta no preto, isto se estes pigmentos são puros, característica raramente encontrada na maioria das tintas comerciais.
Cores e suas misturas
Cores primárias
Pela definição, cores primárias são cores que não podem ser obtidas por meio de misturas. Quando misturadas, geram outras cores. Exemplo: ciano, magenta, e amarelo, no sistema CYMK (já falaremos sobre isso).
Cores secundárias
É a mistura de duas cores primárias. Exemplo: Verde = ciano + amarelo.
Cores terciárias
É a mistura de uma cor secundária com uma cor primária. Exemplo: Laranja = vermelho + amarelo.
Os sistemas de cores
RYB
Este é o sistema clássico usado pelos artistas de outrora e alguns da atualidade. Baseia-se na “Teoria das Cores” de Isaac Newton. Antigamente o utilizavam devido a escassez de pigmentos, conforme vimos no tópico “Os pigmentos“. Durante muito tempo achou-se que o vermelho era cor primária, pois não havia como obtê-lo misturando os poucos pigmentos disponíveis. Talvez por desconhecimento ou acomodação, ainda hoje assim é ensinado aos nossos jovens nas aulas de educação artística.
Vemos na ilustração as cores primárias assinaladas com o algarismo “1“; as secundárias com “2” e as terciárias com “3“.
CYMK
Voltemos ao ano de 1990, onde talvez muitos dos leitores ainda não tivessem nascido. As impressoras “jato de tinta” eram oferecidas nas vitrinas das lojas, proporcionando a impressão colorida no âmbito doméstico. O periférico popularizou-se rapidamente. Seus cartuchos de tinta, a princípio eram três, nas cores ciano, amarelo e magenta. As demais cores, incluindo o preto, eram conseguidas pela mistura subtrativa dessas três primárias. O alto consumo e o elevado preço da tinta inviabilizou esse método, o que levou os fabricantes a adotarem o quarto cartucho, o preto, sendo este pigmento mais barato que os outros. Ademais, o preto sintetizado pela cores primárias sempre apresentava uma tonalidade tendendo ao marrom, devido a falta de fidelidade nas cores primárias. Com a introdução do preto tudo foi resolvido no caso das impressoras.
Mas por que não usaram o amarelo, vermelho e azul da paleta tradicional? Simplesmente porque com essas cores não daria para sintetizar todas as outras, uma vez que elas não são primárias realmente. Essa teoria não é recente. Foi ensaiada por Johann Wolfgang von Goethe (1749 a 1832), questionando a teoria de Newton e reinterpretando as cores para impressão de Le Blon (precursor das artes gráficas, 1667–1741). O Sistema CYMK ganhou popularidade com as impressoras modernas, sendo formado pelas as cores primárias ciano, amarelo, magenta e preto (Cyan, Yellow, Magenta e BlacK).
RGB
Estudamos este sistema quando abordamos o tema “Mistura aditiva“. Sendo composto por fonte emissora de luz, é mais utilizado em mídias eletrônicas, para arte digital e programação de computadores, fugindo ao nosso objetivo que é estudar as cores para aplicação na pintura com uso de pigmentos.
Pintura com paleta reduzida
Posso pintar somente com as cores básicas?
Talvez. Seria a resposta mais apropriada para essa pergunta. Se vamos pintar aquarela, a resposta mais se aproxima do “sim”, onde a cor branca é a cor do papel. Já para pintura com tinta à óleo ou acrílica, devemos acrescentar o branco. Lembremos ainda que dificilmente se consegue pigmentos de qualidade, que representem realmente as cores originais, mesmo os mais caros. Se não são fiéis, não obteremos misturas precisas. Há outro fator importante: a maioria dos artistas trabalha com “cores quebradas“, ou seja, ligeiramente alteradas para melhor representar as cores que existem na natureza. Experimente abrir um tubo de tinta “verde-limão” e tente achar uma folha nas árvores que tenha esta cor. Provavelmente não encontrará, pois a natureza trabalha com “cores quebradas”. A do tubo foi fabricada pelo homem. Este é assunto para outra oportunidade.
Segue uma pintura que fiz usando as cores primárias da paleta CYMK, acrescida do branco (não usei preto). Claro, tem uma pitada pessoal.
Fontes
João Barcelos, Pintura – Além do pincel (www.joaobarcelos.com.br)
https://www.chiefofdesign.com.br/teoria-das-cores/
https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/fisica/o-que-sao-fotons.htm
https://pt.wikipedia.org/wiki/Portal:Cores
https://www.aprenderfacil.com.br/2020/12/paleta-ou-palheta-de-cores.html
https://www.culturagenial.com/historia-da-arte-guia-cronologico/
https://estudodacor.wordpress.com/aspectos-fisicos/organizacao-visual-das-cores/
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