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Reaproveitamento de telas 2

As telas representam uma parcela considerável no custo de uma obra. Uma boa tela não é fácil de encontrar no mercado invadido por materiais de má qualidade. Quem pinta com certa regularidade provavelmente já passou por problemas ao armazenar pinturas antigas, que dificilmente serão vendidas e ocupam muito espaço. Material parado é prejuízo para sua atividade. Dizem que mesmo os perturbados mentalmente não rasgam dinheiro, então, por que descartar as telas que foram pintadas para testes? Veremos como reaproveitá-las.

Como armazenar telas pintadas

Com certa regularidade o artista armazena, por curto ou longo tempo, suas obras concluídas. Muitas serão utilizadas em exposições e eventos em que o artista participará, mas algumas não têm finalidade tão nobre. Podem ter sido pintadas como estudo, ou para cumprir agenda em eventos. Há também aquelas que ficaram em segundo plano ao serem avaliadas pelo autor. Geralmente obras dessa natureza ficam guardadas por tanto tempo que o artista até esquece que elas existem. Com o passar do tempo, o espaço vai ficando escasso. Via de regra, começam com estantes e se espalham por sótãos, porões, atrás dos móveis e quaisquer espaços onde possam caber. Que transtorno! Nessa hora, entendo porque alguns colegas optam por aquarelas (que também acho lindas).

Certa vez, ao pintar uma obra para participar da gincana organizada pela academia da qual faço parte, não gostei do resultado. Era sobre a Páscoa, tema que não está entre os meus preferidos — para não usar expressão mais dura. Após o evento, guardei-a numa estante que tenho para essa finalidade. Esqueci dela, até que precisei liberar espaço para guardar outro material. Resolvi prepará-la para receber nova pintura, procedimento que compartilharei com os amigos leitores.

Como reaproveitar telas para pintura acrílica

Os passos que utilizo são simples, mas há colegas que utilizam outros procedimentos para a mesma finalidade. Para utilizar o meu método, faça o seguinte:

1 — Passe uma lixa fina sobre a pintura, retirando a maior quantidade de pigmento possível. As lixas mais adequadas são as chamadas “lixas d’água”, normalmente usadas para lixar superfícies metálicas. Elas podem ser lavadas, escovadas para retirar os pigmentos aderidos e reutilizadas. Tome cuidado para que esse processo não danifique o tecido da tela.

2 — Limpe e seque a superfície.

3 — Prepare a tinta para nova “imprimação” — preparação da tela para iniciar nova pintura. Vimos esse processo no artigo “Preparo da tela” (https://www.paulojorge.art.br/preparo-da-tela), publicado nessa coluna. Costumo utilizar “tinta para piso”, já que essa tinta para uso imobiliário tem muita resina em sua composição. Ainda acrescento “cola branca” em pequena quantidade (aproximadamente 10%) e um pouco de água. Após misturar bem, cubro toda a superfície com o auxílio de uma trincha. Repito o processo até que não reste nenhum vestígio da pintura antiga.

4 — Após secar, lixe suavemente, limpe para eliminar o pó residual e o suporte estará pronto para receber nova obra.

Vantagens e desvantagens do reaproveitamento de telas

A primeira vantagem é evidente — você economizará dinheiro. A segunda, não menos importante, é que economizará espaço. Numa época em que o uso racional dos recursos naturais se faz necessário, esse é um comportamento ecologicamente correto, pois evitará o descarte e contaminação do solo com os componentes químicos utilizados nas tintas.

Embora alguns artistas não reutilizem telas sob o argumento do aumento da carga de trabalho, considero uma vantagem a segunda pintura sobre a mesma superfície. Nesse caso, a obra ficará mais resistente a fungos, já que a camada de tinta será generosa. Veja o artigo “Mofo mantenha distância!” (https://www.paulojorge.art.br/mofo-mantenha-distancia). E as desvantagens? Elas praticamente inexistem. Já falamos do aumento de trabalho, mas não é muito diferente de preparar uma tela nova.

Cuidados ao pintar sobre tela reaproveitada

BALNEÁRIO DE SÃO PEDRO - AST 40x60 (Paulo Jorge)

Para pintar telas impressionistas, não me preocupo em lixar demasiadamente e retirar todo relevo criado pela pintura anterior. Nesse caso, uso camadas mais gordas de tinta. Contudo, para pintar com mais realismo, a tela deve ser bem lixada, de modo que fique o mais lisa possível. Caso apresente irregularidades, procuro posicionar objetos sobre esses acidentes, de modo que fiquem incorporados ao cenário e contribuam para o embelezamento da obra. Essa é uma maneira de converter o que seria inconveniente em detalhes de estilo. Recentemente utilizei essa técnica na obra “BALNEÁRIO DE SÃO PEDRO” (https://www.paulojorge.art.br/project/balneario-sao-pedro), iniciada num evento de pintura ao ar livre.

Obra utilizada

BALNEÁRIO DE SÃO PEDRO - AST 40x60 (Paulo Jorge)
BALNEÁRIO DE SÃO PEDRO” – Acrílica sobre tela, 40×60 (Paulo Jorge)

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