Eis um assunto que divide opiniões. Muitos artistas não utilizam verniz em suas obras, enquanto outros usam tanto para acabamento quanto para retoques. Na pintura com tinta acrílica a polêmica ainda é maior, já que a grande maioria dos artistas que conheço não faz uso desse recurso.
O verniz e sua utilidade
Verniz é uma mistura viscosa de substâncias naturais, com a finalidade de criar uma película protetora onde é aplicado, para proteger a peça contra umidade e efeitos das intempéries. De acordo com sua finalidade, pode conter aditivos químicos, como corantes, secantes e elementos para reforçar o brilho. Pode ser fabricado a partir de resina vegetal, como a “resina Damar”, obtida pela laceração de arbustos abundantes no sudeste da Ásia, diluído em solventes específicos. Há ainda os vernizes derivados do petróleo, nitrocelulose, poliuretano e poliéster. Cada tipo tem aplicabilidade diversa em várias áreas da indústria e também nas artes.
O papel do verniz nas obras de arte
Ninguém pode negar que o verniz, quando bem aplicado, realça as cores da tela, principalmente as escuras. Mas esse não é o papel principal do verniz, pois além de realçar as cores, cria uma película transparente que isola a pintura do mundo exterior. Assim, facilita muito o trabalho de limpeza da obra suja pela poeira ambiente ou pelo toque indevido de pessoas. Por outro lado, pode dificultar o trabalho de restauração da pintura quando necessário. Devemos observar que existem vernizes removíveis e outros permanentes.
1) Verniz na pintura a óleo
Como já estudamos anteriormente, a tinta a óleo não seca por evaporação e sim por oxidação, que é uma reação química dos componentes da tinta com o oxigênio. Sabe-se que algumas cores amarelam com o tempo, o que também vimos no artigo “Transparência e permanência das cores“. Nas pinturas a óleo o isolamento das camadas de tinta ajuda muito a retardar esse processo.
A aplicação do verniz, segundo os fabricantes, deve se dar com a tinta completamente seca. Alguns recomendam que seja após um ano da obra concluída, o que parece um exagero, contudo garante que a tela esteja realmente seca. Na prática, se a pintura foi feita com camadas finas de tinta, um ou dois meses são suficientes. Já em pinturas espatuladas ou com camadas mais generosas de tinta, devemos esperar muito tempo, pois mesmo com aparência de seca, pode estar molhada no seu interior. O artista espanhol Hangel Montero declarou em um dos seus vídeos que pressiona a tinta com a unha. Caso marque, a tinta ainda estará molhada na parte mais interna.
2) Verniz na pintura acrílica
Como dissemos na introdução, a maioria dos artistas não utiliza verniz para acabamento de suas obras, sob a alegação de que a tinta acrílica seca por evaporação e que já é por si só uma camada isolante para o tecido da tela. Esse argumento é válido e isso evita a contaminação por fungos. Devido a essa característica, a limpeza da obra fica muito simples, bastando passar um pano macio ligeiramente umedecido com água. Mas o impermeabilização não é a única função do verniz — ele serve para realçar as cores e uniformizar o brilho delas, já que algumas ficam brilhantes e outras mais foscas quando secam.
3) Verniz em desenhos
São fundamentais para fixar o desenho no papel. Tanto o carvão quanto o grafite tendem a soltar partículas quando guardados sem envernizar, podendo borrar o trabalho e estragar a obra. Nesse caso, utiliza-se verniz em “spray” para fixar o desenho e possibilitar o manuseio com mais segurança.
Verniz — quanto ao brilho
Nem todo verniz é igual. Existe um para cada finalidade e o tipo de aplicação pode variar bastante de um tipo para outro. Há artistas que preferem acabamento mais brilhante e outros gostam que suas obras fiquem mais acetinadas ou foscas. Todos cumprem bem o papel de proteger a obra e facilitar a limpeza quando necessário. Quanto ao brilho, assim se dividem:
a) Brilhante
Como o próprio nome sugere, deixa a obra com suas cores mais brilhantes. Esse efeito não agrada a alguns porque pode refletir a luz ambiente, como se a tela estivesse com uma proteção de vidro. Mas com a luz ambiente normal, o efeito é muito agradável e confesso que é o meu preferido.
b) Semi-brilho ou acetinado
Reflete menos a luz do que o brilhante, mas cumpre o papel de realçar as cores menos vívidas da pintura. O termo “acetinado” deriva de cetim, um tecido de grande beleza.
c) Fosco
Apresenta resultado mais discreto, mas ainda assim realça as cores mais apagadas, uniformizando a pintura.
Verniz — tipos de uso
Existem vernizes para diversos tipos de uso. Os mais comuns são de acabamentos e retoques. Alguns artistas utilizam vernizes específicos para amarelar as pinturas, dando ar de envelhecimento na obra. Há ainda aqueles que misturam verniz de retoque com solventes, produzindo médiuns para utilização nas pinturas a óleo. Nesse caso, além da função de médium — que é diluir as tintas — atuam como secantes, pois o tempo de secagem do verniz é bem menor do que o tempo de secagem das tintas.
1) Verniz para retoques
Utilizado na pintura a óleo para proteger ou realçar determinados trechos da pintura, possibilitando pintar sobre essas áreas em tempo futuro. Em casos excepcionais, pode ser usado para acabamento, quando, por exemplo, o artista vai expor o quadro antes da sua conclusão. Deve ser aplicado sempre com a tinta completamente seca.
2) Verniz para acabamento
Como o nome indica, é para ser aplicado com a obra concluída e completamente seca. Já são fornecidos diluídos, possuindo coloração leitosa, como as colas brancas, mas quando secam, criam uma película transparente. O artista deve escolher o tipo que mais o agrada segundo o brilho que deseja. Enquanto uns preferem a obra com acabamento fosco, outros gostam da pintura mais brilhante. O verniz em “spray” deve ser aplicado com a tela no cavalete, pois facilita o manuseio do frasco, enquanto os líquidos devem ser aplicados com a tela sobre uma mesa. Nesse caso se utiliza um pincel largo e macio ou um pincel de espuma — facilmente encontrado nas lojas especializadas.
3) Verniz geral para acabamento
Possui forte odor devido ao meio em que são diluídos. Como são muito concentrados, é recomendável misturar terebintina antes da aplicação. Eu não costumo utilizar esse verniz e evito usar o “spray” por causa do odor forte. O mesmo não ocorre com o verniz líquido para acabamento, que é diluído em base acrílica.
Outros tipos de verniz
O assunto é vasto para abordamos num único artigo. O leitor esclarecido certamente sabe que há mais produtos dessa natureza para uso na arte, como verniz mordente, verniz craquelê, verniz cristal e outros. Nessa oportunidade, citamos os mais comuns, auxiliares valorosos na pintura acrílica e a óleo. Noutra ocasião, falaremos sobre as técnicas de aplicação desses produtos.
Referências
- https://manualdoartista.com.br/origem-da-resina-damar/
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Verniz
- LOS BARNICES – Hangel Montero ( https://www.youtube.com/watch?v=OiqyfnjqBzA )
- Como passar verniz em uma pintura – Elton Brunetti ( https://www.youtube.com/watch?v=6tztywnBzsQ )
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