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Muitos artistas não utilizam tinta preta pronta – aquelas adquiridas em tubos, nas lojas especializadas. Preferem fazer o que chamam de “preto cromático”, misturando outros pigmentos. É o que veremos neste artigo, incluindo um método alternativo que eu uso nas minhas pinturas de paisagem. E vocês, como fazem? Eu adoraria saber. Veja como comentar ao final do texto.

Como percebemos as cores

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A camada mais interna do olho humano é a retina, responsável pela percepção da luz. Nela estão presentes dois tipos de célula para essa função: os bastonetes para percepção visual com pouca luminosidade e as células cone, cuja função é perceber as cores e os detalhes. Assim, vemos os objetos por meio da luz que reflete neles. Sabendo que a radiação emitida por uma fonte luminosa é uma frequência que pode ser absorvida ou refletida pelos objetos, nossa retina é irradiada somente pela parte refletida.

Nosso olho funciona no sistema de mistura aditiva (RGB), onde “R” corresponde ao “vermelho” (“red” em inglês), “G” ao “verde” (“green“) e “B” ao “azul” (“blue“). Vimos isso com riqueza de detalhes no artigo “Cores – como percebemos“.

Na figura ilustrativa temos três situações: (1) Um objeto pintado de branco reflete todas as cores (frequências); (2) Um objeto pintado de preto absorve todas as frequências, portanto, nenhuma informação de cor atinge a retina do observador e ele tem a percepção de que o objeto é preto; (3) Um objeto pintado de vermelho reflete a frequência correspondente à cor “vermelha”, absorvendo todas as outras, fazendo com que o observador o veja “vermelho”.

Preto cromático

Como observamos no exemplo anterior, o pigmento preto absorve as informações de cor que estão presentes na luz incidente sobre uma superfície pintada com ele. Sabemos que nossa visão não funciona sem a luz e que a iluminação é um efeito fundamental na pintura. Os suportes que recebem as pinceladas são planos (papel, telas, paredes e outros) e para apresentarem a sensação de profundidade, luz e sombra devem ser representadas com técnica correta (pode variar, dependendo do estilo da pintura). Há uma máxima adotada por muitos colegas que diz: “Luz quente gera sombra fria e luz fria gera sombra quente”. Sobre a temperatura das cores, estudamos no artigo “Perspectiva atmosférica“, mas em síntese, podemos dizer que as cores quentes são aquelas que despertam em nós a sensação de calor e as cores frias transmitem a impressão de frio (contém azul). Já aquelas formadas pelo branco, preto e suas mesclas, são conhecidas como cores neutras.
Alguns artistas não utilizam a cor preta adquirida no comércio, sob o argumento de que esse pigmento “neutraliza” as misturas e que, sob olhar mais acurado, transmite a sensação de que toda a obra está com o brilho atenuado, podendo mesmo tender ao “cinza”. Para evitar tais efeitos, preferem “fabricar” o preto misturando outros pigmentos. Com isso, podem conseguir tons pretos com tendência mais quentes ou frios, dependendo do uso que pretendemos fazer.

Preto cromático baseado nas cores primárias

Cores Primárias (Corfix Arts)

Cores primárias são aquelas que não podem ser obtidas por meio de mistura de outras cores. Quando misturadas, geram todas as demais. Na mistura de pigmentos, usamos o sistema “CMY“, onde o “C” vem de “Ciano” (da família dos azuis), o “M” de “Magenta” e “Y” de “Yellow” (amarelo). Os fabricantes podem denominar seus produtos de forma diversa. Costumo usar como primárias três tintas acrílicas da Corfix (linha Arts): Amarelo primário (168), Azul primário (135) e Magenta primário (179). Para produzir o “preto cromático” elas são melhores, mas na prática diária, substituo o “amarelo primário” pelo “amarelo de cádmio claro”, o “azul primário” por “azul cobalto” e o “magenta primário” por “carmim”. Isso para gerar “cores quebradas”, mais presentes nos elementos da natureza. Trataremos desse assunto noutra oportunidade.

Passo 1: gerar as cores secundárias

Cores secundárias são aquelas produzidas pela mistura de duas primárias: (1) Verde = Ciano + Amarelo; (2) Azul escuro = Ciano + Magenta; (3) Vermelho = Amarelo + Magenta.

Passo 2: misturar a terceira cor para gerar o preto

Agora só resta misturar a terceira cor. Cuidado para não errar a mão, sob pena da mistura não produzir o preto. Vá dosando até conseguir a tonalidade que deseja. Com essa técnica, podemos variar a “temperatura” do preto, adequando-o para a necessidade da nossa pintura.

Preto cromático baseado em “Sombra Queimada”

Esse é o método preferido por muitos artistas. A maioria dos tutoriais que encontramos na Internet usa “Sombra Queimada” misturada com “Azul Ultramar” para produzir o preto cromático. Todavia, eu não aconselho ao iniciante o uso dessa metodologia. “Sombra Queimada” é uma coloração já composta por dois outros pigmentos. Na marca Corfix é uma mistura de vermelho e preto (PR101, PBk11), pertencente ao Grupo 2. Tenho observado nos pintores neófitos uma tendência muito grande em usar exageradamente os tons terrosos (marrons). “Sombra Queimada”, se usada em excesso, pode arruinar um trabalho. Eu não utilizo marrons prontos – prefiro fazê-los por misturas.

Preto cromático produzido por Azul da Prússia e Laranja

Esse é o meu método preferido. Agradeço ao meu amigo e mestre Roger Vianna por essa dica!

Como pintor de paisagens, gosto das cores quentes! O laranja não poderia faltar. Certamente, pode ser produzido pela mistura do “amarelo” (primário) com o “vermelho” (secundário), por se tratar de uma cor terciária. Mas como sua utilização é costumeira na maioria das obras que pinto, prefiro ter duas opções de “laranja” entre as minhas tintas. Utilizo o “Laranja Acrilex 517” na mistura com o “Azul da Prússia” (da mesma marca) para obter o “preto cromático“. Também me acompanha, para outra finalidade, o “Laranja 55“, da “Corfix“.

Onde eu errei?

Pode haver situações onde o preto que desejamos produzir por mistura não fique tão preto como desejamos. Seria erro ao misturar?

Em teoria, se misturarmos duas cores complementares nas proporções corretas, produziremos o preto. Se não lembra o que são “cores complementares”, dê uma olhadinha no artigo “https://www.paulojorge.art.br/cores-complementares-e-paleta-otimizada“.

Quando o preto não sai totalmente preto, o problema pode estar na má qualidade dos pigmentos que estamos usando. Infelizmente, nem tudo é o que parece ser. Mas não se preocupe: com o tempo aprenderá a compensar a falha na tonalidade, adicionando um terceiro componente na mistura. A experiência é fundamental em qualquer profissão.

Obra que pintei usando preto cromático

FESTA DA CHUVA, é o nome dessa obra. A parte superior exibe uma tonalidade de preto mais quente, enquanto na parte inferior (próximo ao chão molhado) o preto passa a sensação de frio.

FESTA NA CHUVA

FESTA DA CHUVA – Acrílica sobre tela – 30 x 40

Referências

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