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PRAIA DO ESTALEIRO

Reflexos na pintura são efeitos que chamam a atenção do público. Pintá-los é desafio para artistas iniciantes. Imagens refletidas em superfícies metálicas, como espelhos planos, são mais fáceis de entender. Já a reflexão em superfícies não metálicas, como ocorre em espelhos d’água, é um pouco mais complexa devido ao fenômeno da refração que acontece simultaneamente. Para superar a dificuldade, veremos como funcionam esses fenômenos da física.

O fotógrafo me enganou

Quem nunca observou uma foto com água muito transparente e ficou desejoso de visitar o local para contemplar a maravilha com os próprios olhos? Não é muito raro chegar ao destino e ficar decepcionado com a falta de transparência da água. Há os que tomados de raiva culpam as agências de viagem, achando que as mesmas editaram as fotos para realçar a transparência, enquanto outros podem até xingar o fotógrafo. Muita calma nessa hora! Não é culpa do fotógrafo, mas sim um recurso antigo das máquinas fotográficas – filtros polarizadores.

Propagação da luz

A luz se propaga por ondas eletromagnéticas, portanto, com oscilações transversais ao sentido de propagação, como toda onda eletromagnética. Para entendermos a propagação da luz podemos comparar com a propagação de uma onda mecânica provocada pela oscilação de uma mola com uma das extremidades presa na parede (ilustração). Quando agitada para cima e para baixo, teremos ondas transversais verticais que se propagam em direção horizontal. Se nós a agitássemos para os lados, a onda produzida por essa ação teria oscilação horizontal, ainda assim, transversal à sua propagação no sentido da parede. Chamamos de “polarização” a direção da vibração da onda, que foi vertical no primeiro exemplo.

A luz emanada pelo sol, lâmpadas incandescentes e chamas – por exemplo – não são polarizadas. Ondas produzidas por essas fontes se propagam como na mola, mas vibram em todas as direções, o que pode ser observado na ilustração.

Filtros polarizadores

Filtros polarizadores são lentes especiais que somente permitem a passagem da luz que oscila numa única direção. Como dissemos anteriormente, as máquinas fotográficas mais sofisticadas podem ser equipadas com esse dispositivo.

Para entendermos melhor, vejamos como funciona o “óculos de sol”. Os comuns possuem filtros para determinadas cores. As lentes vermelhas (estranhas, mas existem) impedem a passagem das cores que não sejam vermelhas, fazendo com que vejamos o ambiente com cores alteradas. As lentes polarizadas não alteram as cores, permitindo a passagem de todas elas cujas ondas estejam oscilando na direção configurada. Lentes com polarização vertical conseguem impedir a maior parte das ondas refletidas, proporcionando melhor visualização de objetos sob superfícies transparentes, como lagos e para-brisas dos automóveis. Já perceberam como aquelas fotos tiradas pelos radares eletrônicos mostram o interior dos carros? Essas lentes diminuem um pouquinho a luminosidade, tornando o céu mais azul, por exemplo, mas esse fenômeno é facilmente compensado pelas modernas câmeras fotográficas.

Polarização da luz por reflexão

Para pintar reflexos em espelhos d’água é desejável que entendamos o efeito produzido pela reflexão da luz. Sabemos que tudo que vemos é luz refletida pelos objetos que observamos.

Quando estamos observando a natureza diante de um lago, vemos o que chamamos de “imagem real” (o lago, a vegetação, os seres vivos, nuvens, o céu e seus astros). Além disso, vemos ainda esses mesmos objetos refletidos pela superfície do lago, o que chamamos de “imagem virtual“. Embora tenhamos a ilusão óptica de que a imagem se forma na superfície do espelho d’água, o espelhamento ocorre exatamente como nos espelhos planos metálicos, em pontos virtuais que parecem estar “dentro dos espelhos”. Neles a reflexão é perfeita, mas tudo que observamos à direita, passa a ficar no lado esquerdo e vice-versa.
O lago (representado na ilustração) não se comporta exatamente como um espelho plano metálico, uma vez que os raios incidentes não são totalmente refletidos pela superfície. Parte da iluminação penetra no meio líquido e tem sua direção alterada pela diversidade do meio de propagação, o que chamamos de “refração da luz“. Quando o raio incidente não polarizado toca a superfície do meio aquoso, acontece o fenômeno da “polarização” – os raios com “polarização vertical” penetram na água e os que têm “polarização horizontal” são “refletidos“. Esse fenômeno é mais completo se o ângulo de incidência com a linha normal (vertical em relação à superfície) for tal que proporcione um ângulo de 90º entre o raio refletido e o raio refratado. Quando isso ocorre, temos o que chamamos de “Ângulo de Brewster“. Não vamos aqui demonstrar sua fórmula matemática, já que na pintura não teremos que empregá-la, mas é importante entender o fenômeno para pintarmos de modo consciente.

Podem me perguntar: – Como mudar o ângulo de incidência se não posso podar as árvores?

– Simples, meu caro Watson: abaixe, eleve, aproxime ou distancie seu ponto de observação. – Responderia de bom grado.

Reflexos na pintura

Utilizei a obra “PRAIA DO ESTALEIRO” (https://www.paulojorge.art.br/project/praia-do-estaleiro), que pintei com o maior mestre em pintura acrílica que conheço, o Roger Vianna (https://rogervianna.com.br), especialista em pintar reflexos. Podemos observar o reflexo das pessoas, barcos no estaleiro e objetos na areia molhada, além do reflexo dos barcos que estão navegando.

Dificilmente se consegue reflexo na água com a mesma intensidade de cores do “objeto real”, ficando a reflexão “embaçada” por motivos diversos:

1) A reflexão não é completa porque parte da luminosidade é absorvida pelo meio aquoso.

2) O escoamento turbilhonar dos rios e cachoeiras atrapalham a reflexão.

3) Ondas na água atrapalham a reflexão. Se forem de grande intensidade ou em grande número, a superfície não espelhará os objetos.

4) Para bom resultado, a iluminação é de suma importância.

5) Não custa lembrar: reflexos são sempre na vertical (em direção ao observador). As sombras são projetadas no sentido oposto à fonte luminosa. Assunto abordado em artigo anterior intitulado “Luz e sombra” (https://www.paulojorge.art.br/luz-e-sombra).

Pintura utilizada

PRAIA DO ESTALEIRO

PRAIA DO ESTALEIRO – Acrílica sobre tela (40 x 60)

Referências

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