Faça-se a luz! Segundo alguns religiosos acreditam, o universo foi criado com essa frase imperativa proferida por Deus, seguidas de outras que fogem ao escopo do nosso artigo. Não entraremos no mérito religioso, mas o fato é que a luz e, consequentemente, a sombra são dois fatores indispensáveis para a produção de boas obras de pintura.

O que é a sombra?

Sombra é uma área formada pela ausência, total ou parcial de luz. Se originada pela interposição de um corpo opaco com a fonte luminosa, chamamos de “sombra projetada“. Se o objeto for translúcido, a sombra será inversamente proporcional à translucidez do corpo em questão. Assim, podemos dizer que:

1) Corpo completamente opaco: não permite a passagem de luz.

2) Corpo translúcido: permite, parcialmente, a passagem de luz, dependendo da opacidade.

3) Está sempre no sentido oposto à fonte luminosa, mudando de posição sempre que a luz é reposicionada.

4) Se a a luz provinda de uma unica fonte luminosa distante incide sobre dois corpos iguais dispostos lado à lado numa superfície regular, as sombras estarão praticamente paralelas, sendo mais intensas quanto mais próximas do objeto. A nitidez perdida com o afastamento da fonte geradora se deve à luz refletida por objetos próximos, conforme a foto que ilustra esse tópico. Observemos que as sombras dos pés da cadeira têm bordas mais definidas na origem, perdendo definição conforme se afasta do objeto. A sombra provocada pela projeção da varanda ainda tem contornos menos definidos.

Embora possam parecer observações óbvias, erros de sombreamento em desenhos e pinturas são bastante comuns. Em paisagens sob luz solar é de se esperar que todas as sombras de objetos distantes do observador apontem na mesma direção, em sentido oposto à fonte luminosa, que nesse caso é o sol e está muito distante. Quando nossos sentidos percebem, ainda que involuntariamente, sombras apontando para lados diversos provindas de uma única fonte luminosa distante, achamos que algo está esquisito.

Natureza da luz

A luz é uma radiação eletromagnética capaz de ser percebida pelo olho humano – assunto estudado em artigo anterior intitulado “Cores – como percebemos“. Pode ser gerada por meio natural, como o sol, a lua e fenômenos naturais ou por meio artificial, como a chama de uma vela ou uma lâmpada elétrica. As fontes podem ser combinadas (natural e artificiais), sendo os fotógrafos usuários regulares dessa última modalidade. A luz pode ser aplicada diretamente ou indiretamente sobre o objeto a ser retratado.

Luz natural direta

Ponto de Fuga - AST 40x60 (Paulo Jorge)

Gera sombra bem definida com cores mais “duras”, dependendo da intensidade da iluminação. Dificilmente se consegue uma iluminação somente direta, uma vez que a luz é refletida nos objetos adjacentes ao ponto que queremos destacar. Desse modo, nunca obtemos uma zona de sombra total, mas sim iluminação atenuada e difusa nos objetos secundários da nossa cena. Uma maneira de utilizar melhor a iluminação direta é a colimação do cenário, focando somente no objeto a ser retratado.

Luz natural difusa

A luz natural difusa é muito útil para a produção de retratos, quando não desejamos que um rosto, por exemplo, tenha sua harmonia quebrada pelas sombras indesejadas dos seus elementos (nariz, queixo, cavidades orbitárias, cabelo, orelhas e outros). Observemos que as sombras sempre estarão presentes, o que nos dá a sensação de profundidade, mas suavizadas sob a iluminação difusa, que pode ser obtida de maneiras diversas:

1) Dias nublados – São ótimos para fotografar rostos ou obras de arte, já que atenuam as sombras indesejadas.

2) Filtros artificiais – Filtros translúcidos feitos de tecidos ou outros materiais sintéticos. Os telhados translúcidos são bons filtros artificiais.

3) Iluminação indireta – Pode ser obtida de modo natural pela reflexão da iluminação direta num anteparo, como uma parede, ou em rebatedores de iluminação (utilizados na fotografia). A foto de capa dessa matéria (minha cadelinha Chewie) é um exemplo de iluminação indireta. Notemos que a sombra projetada na parede não tem bordas definidas, apesar de próxima ao objeto. Isso mostra que há mais de uma fonte luminosa (luz refletida).

Luz artificial direta

REALEZA - AST 40X50 (Paulo Jorge)

Produz sombras mais duras, mas como vimos anteriormente, dificilmente evitamos a iluminação indireta provinda da reflexão da luz no ambiente. Os “flashes” das máquinas fotográficas são exemplos dessa modalidade de iluminação.

Luz artificial indireta

Usa a propriedade reflexiva da luz para suavizar as sombras. Pode utilizar diversas fontes luminosas (lâmpadas) combinadas ou não com filtros e rebatedores de iluminação. Os estúdios fotográficos utilizam esses mecanismos regularmente nas fotografias de modelos vivos ou obras de arte.

Luz e sombra na pintura

A iluminação e sombreamento são de importância fundamental para dar a impressão de profundidade na cena retratada, juntamente com a “perspectiva linear” e a “perspectiva atmosférica“. Essa técnica é conhecida no meio artístico como “Chiaroscuro” (claro-escuro). Para pintar as áreas de sombra, alguns cuidados devem ser observados:

1) Observe a perspectiva linear – A sombra obedecerá às regras da perspectiva linear, cujo ponto de fuga é a fonte luminosa. Se há mais de uma fonte luminosa, cada uma será um ponto de fuga diferente. Cuidado para não exagerar!

2) A sombra é mais intensa próxima ao objeto que a gera, perdendo intensidade e definição das bordas nas partes mais afastadas (consequência da iluminação indireta provocada pela reflexão da luz em objetos próximos).

3) Tenha atenção especial para as sombras gradientes – Uma sombra gradiente é aquela que aumenta de intensidade gradualmente quanto mais afastada da fonte luminosa. Ocorre geralmente em fontes de iluminação artificial, como por exemplo, uma vela iluminando uma cena no centro de uma sala escura. A luz da chama se propagará em todas as direções, diminuindo de intensidade à medida que se afasta da chama, o que aumenta a intensidade das sombras nos locais mais distantes.

4) A sombra não é preta – A cor de fundo predominará, mas será escurecida pela sombra. Uma regra da pintura nos diz que luzes quentes produzem sombras frias, enquanto luzes frias geram sombras quentes, assunto já abordado em nosso artigo intitulado “Ampliação com grade 2“, mas adiantamos que não há consenso sobre sua utilização – Aliás, em pintura não existem regras que não possam ser quebradas eventualmente, com moderação, dependendo do estilo da obra.

Recomendações

Esse tema é inesgotável, mas há várias fontes de pesquisa na Internet – felizmente! Maravilha dos tempos modernos! Aqui estão algumas:

1) https://arteref.com/ – Excelente portal com informações de qualidade para pintores e artistas em geral. Além de artigos técnicos, contém matérias relevantes sobre o mercado de artes. É mantido pela equipe do renomado Paulo Varella (@paulvarella), profissional de qualidade reconhecida que contribui grandiosamente para o mercado de artes no Brasil.

2) Art Talks (https://www.youtube.com/channel/UC6w8yoKU-f3n9G6oWmbL9ww) – Canal no YouTube, contendo vídeos de interesse geral para os artistas. Como ele mesmo resume: “Um show sobre negócios no mundo das artes“.

3) Hangel Montero – Canal no YouTube com tutoriais de qualidade sobre pintura. Sobre sombras, há uma série intitulada “El color de las sombras“.

4) PJ.Artes – Tomo aqui a liberdade de citar o meu portal, onde escrevi artigos para auxiliar àqueles que estão iniciando na pintura. Todo o material é fruto de pesquisa baseada em fontes oficiais e com reconhecimento público. Algumas citações foram publicadas com autorização dos respectivos autores. Ao final de cada matéria, cito as referências utilizadas.

Obra com luz e sombra projetada

SÃO JOÃO DEL REI - MG - AST 40x60 (Paulo Jorge)


Referências

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