A teoria das cores vimos em artigos anteriores – listados em “Referências“, no final dessa coluna. Além dos aspectos históricos e rudimentos da física e da química, aprendemos como gerar cores secundárias e terciárias a partir das cores primárias – ciano, amarelo e magenta. Chegou a hora de pintar. Com quais cores devemos montar nossa paleta?
A teoria e a prática
Podemos pintar somente com as cores primárias ciano, amarelo e magenta, já que todas as outras cores podem ser produzidas a partir da mistura dessas três. Devemos levar também o “Branco de Titânio” para clarear onde for necessário. Um bom exemplo disso é a mistura do ciano com o amarelo, onde produz um verde brilhante e vivaz. Agora observe a natureza ao seu redor e tente encontrar um verde assim na vegetação. Tarefa muito difícil! Notamos que as cores da natureza são mais apagadas, ou “quebradas” como se diz no meio artístico. Podemos “quebrar” uma cor misturando sua complementar, em doses moderadas, até encontrar o tom adequado. Poderíamos evitar esse excesso de trabalho levando a paleta otimizada, já com as cores atenuadas.
Cores complementares
Cor complementar é aquela que se encontra na posição oposta na “roda das cores“. Podemos escurecer qualquer cor misturando sua complementar. Para fixar esse conceito, o artista espanhol Hangel Montero em um dos seus tutoriais no Youtube compara as cores complementares com convidados para um jantar, onde alguns deles são inimigos. O anfitrião, ao selecionar os lugares numa mesa circular, nuca colocaria dois inimigos lado a lado. A arrumação mais adequada seria colocá-los frente a frente, um em cada extremidade da mesa. Analogia perfeita! As cores complementares se comportam como se fossem inimigas, onde uma tende a anular a outra, desde o escurecimento discreto até a produção do preto, que nesse caso chamamos de “preto cromático“. Aproveitando essa característica, podemos obter misturas incríveis com a combinação desas cores. Eu mesmo não utilizo tinta comercial da cor “preta” – prefiro produzi-la a partir da mistura de cores complementares. Assim posso ter o preto ligeiramente mais quente ou frio, dependendo das cores misturadas. Abordaremos esse assunto oportunamente.
Paleta de cores otimizada
– Artista de verdade pinta até com cuspe colorido – já ouvi essa afirmativa, o que certamente é uma hipérbole muito longe da verdade. Sabemos que o material adequado facilita bastante a realização de qualquer trabalho – na pintura não é diferente.
No artigo “Pintura acrílica – materiais” listamos os materiais necessários para iniciar pintura em tela com tinta acrílica. Abordamos as tintas adequadas, desde as mais básicas e acessíveis até as desejáveis e mais raras. No artigo “CORES PRIMÁRIAS E SUAS MISTURAS“, que antecede este, mostramos como produzir as cores secundárias e terciárias usando somente as cores primárias ciano, amarelo e magenta. Mas como já afirmamos, as cores produzidas são muito vívidas, distante do que encontramos na natureza, que exibe “cores quebradas”, ou seja, menos intensas. Certamente podemos utilizar as cores complementares para diminuir a intensidade das cores produzidas a partir das primárias, mas alguns artistas montam “paletas personalizadas” e com isso economizam bastante tempo no trabalho.
Aprendi a utilizar o “carmim” em vez do “magenta” como cor primária com o mestre Roger Vianna, a quem muito agradeço. Mais tarde conheci a obra de Hangel Montero e passei a adotar a “roda de cores” por ele sugerida em seu livro “La Obtencion del Color: Un secreto al descubierto“. As famílias das cores são mantidas, porém utiliza “cores quebradas”, o que facilita o trabalho. A roda de cores é ferramenta que o artista deve ter sempre por perto na hora de realizar misturas. Todos a utilizam, embora muitos consultem a memória em vez de mídias físicas.
Cores complementares e alto contraste
Pintura realizada com as tintas “primárias” da paleta adaptada (azul cobalto, amarelo e carmim) e branco, mostra outro papel das cores complementares: produzir alto contraste. Nessa obra as orquídeas tendem ao “violeta” e “carmim“, contrastando perfeitamente com o “verde” da folhagem. O “preto“, presente no fundo, foi produzido com mistura de cores complementares. Conheça mais sobre essa obra em https://www.paulojorge.art.br/project/cattleya.
Referências
- https://www.paulojorge.art.br/01-a-o-mundo-magico-das-cores/
- https://www.paulojorge.art.br/cores-como-percebemos/
- https://www.paulojorge.art.br/cores-primarias-e-suas-misturas/
- https://www.paulojorge.art.br/pintura-acrilica-o-comeco/
- https://rogervianna.com.br/
- https://www.rapidtables.org/pt/convert/color/cmyk-to-rgb.html
- http://www.tacolor.com
- https://color.adobe.com/pt/create/color-wheel
- Pintura além do pincel – João Barcelos
- https://www.hangel.es/
Sensacional a sua didática, a abordagem sobre o assunto de forma tão simples e bem prática que, com certeza facilitará muito os meus trabalhos daqui para a frente. Parabéns,muito obrigada!
Querida artista Sônia, fico feliz em ser útil aos colegas e amigos. Obrigado por seu comentário gentil! Procuro ser prático porque fui “alimentado” durante muito tempo por conhecimentos acadêmicos e cursos livres dos quais aproveitei pouca coisa. Passo adiante somente o que me foi útil.
Desejo a você muito sucesso na carreira artística! Se eu puder ajudar em algo, estou por aqui. Abraços.